Segurança no Vadeio
Dificilmente paramos para pensar nos riscos que
corremos ao nos deslocar-mos nas margens e diretamente sobre o leito do rio,
principalmente.
Abordarei este tema em duas partes: prevenção e ação
em caso de emergência.
Previnindo...
Há o básico de segurança na pesca com mosca: anzóis com farpas amassadas, uso de óculos, protetor solar
para corpo e boca, chapéu ou qualquer outra
cobertura, lenço para o pescoço, enfim, o que
todos devem já conhecer.
Creio que tudo começa na checagem de nosso material de
pesca, ainda em casa, antes de sairmos. Devemos verificar o estado de nosso
wader, sola do wader shoes, condição da ponteira do wadding staff, as suas
articulações, sua bainha, etc.
Alguns destes itens são já hoje facilmente encontrados
no Brasil e muitos até já produzidos aqui. Comecemos pelo wader.
O wader é um macacão
impermeável, que pode ser de neoprene, PVC, nylon, e alguns “respiráveis” que
são de materiais mistos, em várias camadas e membranas. Tem a função de manter
o pescador seco e quente durante sua permanência no rio. Embora utilizável, o
único que não recomendo é o de PVC. Limitam muito o movimento do pescador, o
que pode atrapalhar muito num caso de emergência. Também suas botas acopladas
necessitariam de adaptação de um solado de feltro ou equivalente, por parte de
um habilidoso sapateiro, o que nem sempre dispomos. De resto, qualquer um pode
ser usado, dependendo do gosto e poder econômico do pescador. Há os sem e os com
botas acopladas, essas com feltro e/ou pinos metálicos ou mesmo sem nenhum destes,
com solado em apenas borracha. Os simples de nylon devem ser usados com uma
meia de neoprene, para se proteger o nylon do atrito e consequentemente furo e
também com roupas quentes por baixo deste, pois não é térmico.
Wader shoes (sapatos de vadeio) são
preferencialmente botas de cano curto, com solados em feltro/feltro com pinos
metálicos ou borracha/borracha com pinos. Para caminhar no leito do rio,
recomendo os com feltro no mínimo, e com pinos se o pescador assim desejar, se ele
se sentir a vontade. Estes calçados devem ser comprados em um número maior que
o usuário, até mesmo dois números, pois devemos lembrar das meias do macacão de
neoprene e mais a meia normal ainda por baixo. Devem se ajustar bem ao pé, sem
folgas que possam causar bolhas e ferimentos. Também não podem ficar apertados
demais para não causar problemas circulatórios. Normalmente são de couro
hidrofugado, couro artificial, lonas resistentes, kevlar, borracha e
combinações destes.
Polainas destacáveis são bem vindas,
já que evitam a entrada de alguma areia ou mesmo pedras em nossas botas,
evitando furos e machucados.
O wadding staff (bastão
de vadeio) é um dos itens que são essenciais no caso de rios com águas correntes
fortes e/ou de leito muito irregulares, e/ou de não conhecimento do
pescador/guia e/ou se o pescador estiver sozinho. Mais que um terceiro ponto de
apoio, ele servirá para a sondagem do leito do rio, da profundidade de onde
pensamos pisar. Há rios com leito escuro que dificultam a visualização da
profundidade. A refração da água também engana muito os olhos na hora de avaliarmos
profundidades e distâncias. Existem bastões próprios para pesca, com cerca de 1,50 metros, que são
articulados, parecidos com as bengalas usadas por deficientes visuais, o que
ajuda no porte/transporte dos mesmos. Normalmente são feitos de alumínio.
Outros bastões semelhantes, para caminhadas podem ser adaptados e usados para
pesca, embora normalmente sejam mais bengalas que bastões, por serem mais
curtos. Pode ser feito algum de madeira rígida, inteiriço, com uma ponteira de
metal e corda para amarração. Até mesmo improvisados de bambu ou galho de
árvore. Vai muito do gosto, poder aquisitivo e disponibilidade do pescador.
Há também coletes de pesca
que possuem câmaras internas que podem ser infladas num gesto rapidamente em
caso de emergência, por meio de um tubo de CO2 acoplado.
Também
recomendo a inclusão de mais alguns itens nesse kit de vadeio:
Uma lanterna é de muita
utilidade, tanto na pesca em si em horas adiantadas e já escuras, como no
auxilio no deslocamento do leito para a margem do rio e no caminho de retorno
ao transporte, acampamento ou pousada. Existem umas lanternas já destinadas aos
pescadores com moscas, que são articuladas e de fixar no colete. O mercado disponibiliza
vários modelos, mas particularmente recomendo as que usam leds, de pequeno
porte e luz intensa, se utilizando apenas de uma pilha pequena e algumas são
inclusive a prova de água.
Um apito pequeno pode
ser muito útil em caso de acidente e algum socorro se encontre muito distante
para se chamar no grito. Até porque podem ocorrer ferimentos que impeçam o
chamado vocal e um silvo de apito chega mais longe e denota uma situação de
emergência.
Recomendo também se levar no colete ou jaqueta, um lençol térmico, daqueles laminados, que impedem a
troca de calor com o meio. Ajudará muito a se evitar a hipotermia, servindo de
agasalho na troca emergencial da roupa molhada.
Um canivete pequeno,
mantido a mão e seguro pode ser de grande valia em uma emergência.
Um cinto para se usar
externamente no macacão, em caso de queda, evitará em caso de queda, a entrada
súbita de água no macacão e o efeito “bóia-louca”, aonde o ar vai para os pés,
obrigando o tórax e cabeça ficar submerso e levando ao afogamento.
Preventivamente falando, também há atitudes e condições que devem ser avaliadas e levadas
em conta antes mesmo de entrarmos na água. Qualquer enfermidade limitadora deve
ser relatada ao companheiro de pesca ou guia, já que não é recomendado ao
portador destas limitações pescar sozinho. Recomendo fortemente a contratação
de um guia conhecedor do local e de procedimentos de emergências. Relatarei
algumas situações de enfermidade ou situação limitadora:
Labirintite, seqüelas de avc, cardiopatias, problemas
motores, seqüelas de acidentes, deficiências neurológicas, limitações de
movimento, deficiências visuais, diabetes, etc. Algumas
dessas patologias influenciam no equilíbrio, força física, tonturas, má
percepção de distâncias, má visualização de pedras e obstáculos, orientação,
etc. Se for necessário, programe a ingestão de medicamentos para o período que
ficarão no rio, inclusive a ingestão de alimentos no caso de hipoglicemia e de
água, evitando a desidratação. Quem está acompanhando deve estar ciente de
todos os casos.
Não é recomendada a ingestão de bebidas alcoólicas
antes ou durante a pescaria. E recomendo pausas nos turnos para a ingestão de
comida e bebida não alcoólica, um café, uma água, um mate que além de hidratar
e alimentar aproxima os amigos pescadores.
Se possível também recomendo relatar a direção tomada
naquele turno de pesca na pousada ou acampamento, e a hora de possível retorno.
Durante a pescaria também, junto a outros pescadores se deslocando, comente a
direção e a intenção tomada. É bom alguém saber onde se pode começar a
procurar, no caso de uma demora demasiada. Leve sempre em conta o tempo de ida
e principalmente o de retorno para o ponto de partida. O dia vai, a escuridão
vem e tudo pode ficar mais difícil sem luz.
Os serviços de guia podem facilitar muito a pescaria,
em produtividade, segurança, conforto e satisfação. Normalmente possuem
instrução em primeiros socorros, conhecem o local profundamente, os atalhos, os
caminhos mais seguros, conhecem os proprietários das terras, etc.
Outra recomendação é de se ter certeza de estar
autorizado pelo proprietário ou responsável, de preferência por escrito, a
circular por toda ou todas as propriedades ao longo do tramo de rio pescado.
Incidentes recentes levaram a morte por disparo de arma de fogo, efetuado por
um “segurança” de uma propriedade, um jovem pescador argentino que pescava pela
patagônia Argentina, supostamente invadindo propriedade particular durante o
vadeio. (continua...)