terça-feira, 10 de julho de 2012

Segurança no Vadeio I


Segurança no Vadeio

Dificilmente paramos para pensar nos riscos que corremos ao nos deslocar-mos nas margens e diretamente sobre o leito do rio, principalmente.
Abordarei este tema em duas partes: prevenção e ação em caso de emergência.

Previnindo...

Há o básico de segurança na pesca com mosca: anzóis com farpas amassadas, uso de óculos, protetor solar para corpo e boca, chapéu ou qualquer outra cobertura, lenço para o pescoço, enfim, o que todos devem já conhecer.
Creio que tudo começa na checagem de nosso material de pesca, ainda em casa, antes de sairmos. Devemos verificar o estado de nosso wader, sola do wader shoes, condição da ponteira do wadding staff, as suas articulações, sua bainha, etc.
Alguns destes itens são já hoje facilmente encontrados no Brasil e muitos até já produzidos aqui. Comecemos pelo wader.
O wader é um macacão impermeável, que pode ser de neoprene, PVC, nylon, e alguns “respiráveis” que são de materiais mistos, em várias camadas e membranas. Tem a função de manter o pescador seco e quente durante sua permanência no rio. Embora utilizável, o único que não recomendo é o de PVC. Limitam muito o movimento do pescador, o que pode atrapalhar muito num caso de emergência. Também suas botas acopladas necessitariam de adaptação de um solado de feltro ou equivalente, por parte de um habilidoso sapateiro, o que nem sempre dispomos. De resto, qualquer um pode ser usado, dependendo do gosto e poder econômico do pescador. Há os sem e os com botas acopladas, essas com feltro e/ou pinos metálicos ou mesmo sem nenhum destes, com solado em apenas borracha. Os simples de nylon devem ser usados com uma meia de neoprene, para se proteger o nylon do atrito e consequentemente furo e também com roupas quentes por baixo deste, pois não é térmico.
Wader shoes (sapatos de vadeio) são preferencialmente botas de cano curto, com solados em feltro/feltro com pinos metálicos ou borracha/borracha com pinos. Para caminhar no leito do rio, recomendo os com feltro no mínimo, e com pinos se o pescador assim desejar, se ele se sentir a vontade. Estes calçados devem ser comprados em um número maior que o usuário, até mesmo dois números, pois devemos lembrar das meias do macacão de neoprene e mais a meia normal ainda por baixo. Devem se ajustar bem ao pé, sem folgas que possam causar bolhas e ferimentos. Também não podem ficar apertados demais para não causar problemas circulatórios. Normalmente são de couro hidrofugado, couro artificial, lonas resistentes, kevlar, borracha e combinações destes.
Polainas destacáveis são bem vindas, já que evitam a entrada de alguma areia ou mesmo pedras em nossas botas, evitando furos e machucados.
O wadding staff (bastão de vadeio) é um dos itens que são essenciais no caso de rios com águas correntes fortes e/ou de leito muito irregulares, e/ou de não conhecimento do pescador/guia e/ou se o pescador estiver sozinho. Mais que um terceiro ponto de apoio, ele servirá para a sondagem do leito do rio, da profundidade de onde pensamos pisar. Há rios com leito escuro que dificultam a visualização da profundidade. A refração da água também engana muito os olhos na hora de avaliarmos profundidades e distâncias. Existem bastões próprios para pesca, com cerca de 1,50 metros, que são articulados, parecidos com as bengalas usadas por deficientes visuais, o que ajuda no porte/transporte dos mesmos. Normalmente são feitos de alumínio. Outros bastões semelhantes, para caminhadas podem ser adaptados e usados para pesca, embora normalmente sejam mais bengalas que bastões, por serem mais curtos. Pode ser feito algum de madeira rígida, inteiriço, com uma ponteira de metal e corda para amarração. Até mesmo improvisados de bambu ou galho de árvore. Vai muito do gosto, poder aquisitivo e disponibilidade do pescador.
Há também coletes de pesca que possuem câmaras internas que podem ser infladas num gesto rapidamente em caso de emergência, por meio de um tubo de CO2 acoplado.
 Também recomendo a inclusão de mais alguns itens nesse kit de vadeio:
Uma lanterna é de muita utilidade, tanto na pesca em si em horas adiantadas e já escuras, como no auxilio no deslocamento do leito para a margem do rio e no caminho de retorno ao transporte, acampamento ou pousada. Existem umas lanternas já destinadas aos pescadores com moscas, que são articuladas e de fixar no colete. O mercado disponibiliza vários modelos, mas particularmente recomendo as que usam leds, de pequeno porte e luz intensa, se utilizando apenas de uma pilha pequena e algumas são inclusive a prova de água.
Um apito pequeno pode ser muito útil em caso de acidente e algum socorro se encontre muito distante para se chamar no grito. Até porque podem ocorrer ferimentos que impeçam o chamado vocal e um silvo de apito chega mais longe e denota uma situação de emergência.
Recomendo também se levar no colete ou jaqueta, um lençol térmico, daqueles laminados, que impedem a troca de calor com o meio. Ajudará muito a se evitar a hipotermia, servindo de agasalho na troca emergencial da roupa molhada.
Um canivete pequeno, mantido a mão e seguro pode ser de grande valia em uma emergência.
Um cinto para se usar externamente no macacão, em caso de queda, evitará em caso de queda, a entrada súbita de água no macacão e o efeito “bóia-louca”, aonde o ar vai para os pés, obrigando o tórax e cabeça ficar submerso e levando ao afogamento.

Preventivamente falando, também há atitudes e condições que devem ser avaliadas e levadas em conta antes mesmo de entrarmos na água. Qualquer enfermidade limitadora deve ser relatada ao companheiro de pesca ou guia, já que não é recomendado ao portador destas limitações pescar sozinho. Recomendo fortemente a contratação de um guia conhecedor do local e de procedimentos de emergências. Relatarei algumas situações de enfermidade ou situação limitadora:
Labirintite, seqüelas de avc, cardiopatias, problemas motores, seqüelas de acidentes, deficiências neurológicas, limitações de movimento, deficiências visuais, diabetes, etc. Algumas dessas patologias influenciam no equilíbrio, força física, tonturas, má percepção de distâncias, má visualização de pedras e obstáculos, orientação, etc. Se for necessário, programe a ingestão de medicamentos para o período que ficarão no rio, inclusive a ingestão de alimentos no caso de hipoglicemia e de água, evitando a desidratação. Quem está acompanhando deve estar ciente de todos os casos.
Não é recomendada a ingestão de bebidas alcoólicas antes ou durante a pescaria. E recomendo pausas nos turnos para a ingestão de comida e bebida não alcoólica, um café, uma água, um mate que além de hidratar e alimentar aproxima os amigos pescadores.
Se possível também recomendo relatar a direção tomada naquele turno de pesca na pousada ou acampamento, e a hora de possível retorno. Durante a pescaria também, junto a outros pescadores se deslocando, comente a direção e a intenção tomada. É bom alguém saber onde se pode começar a procurar, no caso de uma demora demasiada. Leve sempre em conta o tempo de ida e principalmente o de retorno para o ponto de partida. O dia vai, a escuridão vem e tudo pode ficar mais difícil sem luz.
Os serviços de guia podem facilitar muito a pescaria, em produtividade, segurança, conforto e satisfação. Normalmente possuem instrução em primeiros socorros, conhecem o local profundamente, os atalhos, os caminhos mais seguros, conhecem os proprietários das terras, etc.
Outra recomendação é de se ter certeza de estar autorizado pelo proprietário ou responsável, de preferência por escrito, a circular por toda ou todas as propriedades ao longo do tramo de rio pescado. Incidentes recentes levaram a morte por disparo de arma de fogo, efetuado por um “segurança” de uma propriedade, um jovem pescador argentino que pescava pela patagônia Argentina, supostamente invadindo propriedade particular durante o vadeio. (continua...)

2 comentários:

  1. Muito bom, Zé!! Excelente trabalho!! Dicas valiosas para todos que curtem a pesca de vadeo.

    Continue nos brindando com seus textos!

    Abração

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