terça-feira, 17 de julho de 2012

Segurança no Vadeio II


Deslocando-se...

Começando a falar do deslocamento propriamente dito, falarei primeiro do caminho da origem até a margem do rio. Prefira sempre as trilhas demarcadas. Evite saltar cercas e arames farpados, caminhe até a cancela. Basta um furo no macacão e a pescaria já não será a mesma.
Cancela passada, cancela fechada. Normalmente há animais nas propriedades e as cercas limitam sua circulação. Falando em animais, evite chegar muito perto deles, mesmo dos domésticos, pelo caminho. Nada de acariciar vaquinhas, cavalinhos, etc. restrinja-se a fotos, numa distância segura. Normalmente uma vaca não é perigosa, mas basta se interpor entre uma vaca e seu bezerro e a coisa pode esquentar. Cães desconhecidos devem também ser evitados. Cobras e outros animais selvagens normalmente evitam enfrentamento com o ser humano. Faça a volta, ou simplesmente o deixe passar. Caminhe atento ao caminho, siga na trilha mais limpa, evitando assim pisar acidentalmente em uma serpente, o que assim causaria um ataque da mesma.
Evite andar com a vara de pesca montada, se está montada, leve-a com a ponta virada para trás. Em caso de queda, dificultaria a possível quebra. Nem tão pouco com uma mosca alojada no hook keeper (porta-mosca). Não queremos ter uma mosca acidentalmente cravada em nossa mão. Se for necessário passar entre algumas árvores, desmonte a vara. Ponteiras enredadas em galhos já foram perdidas e sequer notadas. Também assim se evita o bater em algum galho que possam ter abelhas ou vespas. Evite também esbarrar com o corpo em árvores ou galhos, muitas têm espinhos e animais como taturanas, vespas e abelhas em seus troncos. Cuidado também com buracos e tocas de animais, ocultos na pastagem. Podem causar torções e quebras de pés, tornozelos e joelhos. Até aí o bastão de vadeo ajuda.




Na margem do rio...

Avalie bem e calmamente todas as condições de pesca e deslocamento. Veja onde se pode entrar e outras opções caso necessárias para sair. Observe a margem oposta, sua acessibilidade. Os obstáculos, a mata, as pedras.
Procure sempre o ponto ideal para entrar no rio. Mesmo que seja mais distante, prefira-o se for o mais seguro. Desloque-se com calma, lentamente, pé após pé. Acomode o pé da frente, estabilize-o totalmente. Sonde locais mais profundos ou que não se veja bem o fundo, usando o bastão de vadeio. Comece a transferir o peso, o centro de gravidade lentamente. Leve o outro pé à frente, sem tirá-lo da água e sem chutar água, e recomece o processo. Não corra. Não salte. Embora pareça que uma pedra lisa e reta seja a melhor posição para se colocar o pé, muitas vezes é melhor optar pelo espaço entre duas ou mais pedras. Pedras maiores e retas têm limo na parte de cima e podem ser irregulares embaixo, sendo instáveis. Chegando ao ponto desejado, estabilize bem ambos os pés, desarme o bastão ou ponha-o de lado e passe a pescar.
Pedras muito grandes devem ser contornadas e usadas como barreira tática de camuflagem e apoio, ao invés de ser escalada. Escalada, ela logicamente deverá ser descida depois de se pescar, e este é um risco desnecessário, além de que se estamos muito acima da linha dágua, aumentamos a possibilidade do peixe nos ver, vindo enfim até a nos prejudicar na sua captura.
Devemos nos manter atentos, em toda temporada o leito do rio se modifica, sendo por tempestades, enxurradas, pedras e árvores deslocadas, etc. Mesmo que conheçamos bem o rio, a observação e cuidado são necessários. Meça bem as profundidades usando o bastão, antes de dar um passo em falso. Muitos leitos de rios de águas límpidas são escuros e prejudicam a visão perfeita das pedras no fundo.
Joe Brooks, no seu livro “Fishing Trout”, nos demonstra o uso da vara de pesca como objeto de recurso para equilíbrio, assim como uma sombrinha ou vara comprida do malabarista na corda bamba. Inclusive expondo o blank da vara a ação da corrente, obtendo um empuxo que pode ser usado para recuperarmos o equilíbrio. Aliás, equilíbrio é tudo, no deslocamento dentro da água.
Outra atitude que nos ajuda a vencer a força das correntes mantendo o equilíbrio é nos colocarmos lateralmente a corrente. Assim oferecemos menor superfície para a ação da água e consequentemente menor ação de sua força.
Se a melhor opção de posição de pesca não é possível, mesmo depois de estudadas várias rotas de acesso, faça seu arremesso superar essa dificuldade, mas não se arrisque numa rota perigosa. Um pé torcido acabará com sua estadia de pesca e possivelmente alguns dias de trabalho. Realmente não vale a pena. A ansiedade e expectativa de uma possível captura normalmente são a causa de uma decisão errada e por fim um acidente.

Reagindo ao acidente...

Talvez o melhor conselho seja: Não entre em pânico. Normalmente em acidentes fatais aquáticos, o pânico é que mata. Certo, tudo bem, mas como não entrar em pânico? Simplesmente tendo já de antemão pensado e estudado o que fazer no caso de acidente. Aqui seguem algumas dicas:
Depois de perder o equilíbrio, evite tentar por muito tempo retomar o equilíbrio. Pode vir a se machucar mais, perder uma energia que será necessária mais adiante. Dê as costas a corrente, mantendo o tronco, os braços, cabeça e os pés fora da água, navegando no seu curso natural, até um acesso a uma pedra, tronco, margem ou local mais raso, retomando a caminhada natural. Naturalmente quando descemos um nível de corredeira, afundamos. Aproveite este momento anterior ao desnível para tomar fôlego e assim proceda tanto quantos forem os desníveis. Logicamente não se deve pescar muito próximo a cachoeiras e quedas de água de grandes volumes, onde uma queda seria fatal.
Depois de se conseguir retomar o equilíbrio e estando já num lugar raso, deve-se imediatamente sair da água e procurar proceder à troca da roupa molhada imediatamente. Lugares frios, vento forte e roupa molhada levam a queda rapidamente da temperatura corporal, levando a hipotermia. Não subestime o poder do frio nem superestime sua capacidade de agüentá-lo. O retorno à pousada ou acampamento poderá lhe fazer perder um turno de pesca, mais lhe renderá um próximo de pesca plena e com saúde.
Se durante a queda ou trajeto dentro da água lhe trouxe uma incapacidade de sair do rio sozinho, não demore a pedir ajuda. Pode acontecer de haver uma torção ou mesmo fratura de membros inferiores. Peça ajuda imediatamente. Já houve casos do pescador demorar e acabar em processo de hipotermia, sentado molhado sobre uma pedra, sem atinar a sair sozinho. Por sorte no final da tarde havia mais pescadores retornando pelo trajeto e o avistaram, o ajudando a retornar a pousada. Ele não estava apto a chamar, na verdade, nem atinava a gritar, nem mesmo tinha a iniciativa de sair do rio.
Não subestime a capacidade de um rio de montanha em encher rapidamente. Se notares que o nível da água subiu ou sua velocidade de corrente aumentou, aproxime-se da margem rapidamente. Rios de montanha podem encher mesmo sem estar chovendo muito forte no tramo pescado, isto devido à possibilidade de estar chovendo forte na cabeceira e afluentes.
Não siga pescando em caso de tempestade elétrica. Ao ouvir uma trovoada, desarme sua vara de pesca e saia do rio imediatamente. Não aguarde mais ou maiores sinais, pois o próximo raio poderá atingir sua vara de pesca e causar sua morte instantaneamente. Já com a vara desmontada, siga para um descampado, se agache, repouse sua vara ao chão e espere passar os raios pacientemente. Evite ficar embaixo de árvores ou sobre morros, cerros ou coxilhas. Somente uma casa ou automóvel são melhores lugares que manter-se baixo num descampado.


Enfim, não há nenhuma garantia de 100% de sucesso para uma pescaria. Nenhum guia sério faria uma afirmação que garantisse sucesso absoluto em uma pescaria, nem em termos de produtividade, nem em termos de acidentes, simplesmente por ser atividade praticada ao ar livre, em ambiente não controlável. Mas se pode sim prevenir a maioria das possibilidades de acidentes tendo uma conduta responsável, consciente e preventiva. Prudência e bom censo são os melhores aliados de uma pescaria de sucesso!

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